Um dia após cogitar a hipótese de atraso no desligamento do sinal analógico de TV, o ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Gilberto Kassab, voltou a afirmar, nesta terça-feira (18), que o cronograma da TV digital será mantido em Brasília (DF).
A “mudança de planos” foi anunciada na abertura da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, em Brasília. Kassab disse ter convicção de que, até a próxima terça-feira (26), data prevista para o desligamento na capital, o índice de 93% das residências aptas para receber o sinal digital será atingido.
“Todos os números são amplamente favoráveis e mostram, sim, que o sinal será desligado”, ressaltou o ministro.
Na segunda-feira (17), em São Paulo, Kassab havia dito que se o índice de domicílios aptos a receber o sinal digital em Brasília e nas cidades do entorno do DF não fosse atingido, o processo de desligamento do sinal analógico poderia ser adiado por algumas semanas.
Radiodifusores angustiados
A possibilidade de desligar o sinal analógico da TV aberta sem alcançar o índice previsto tem causado preocupação aos radiodifusores.
De acordo com a portaria do MCTIC, o sinal só poderá ser desligado quando 93% dos domicílios estiverem recebendo o sinal digital e, segundo as últimas pesquisas, a poucos dias da data prevista, esse número está em 79%. "Se esse número for confirmado, poderemos ter aproximadamente 100 mil residências sem o sinal da televisão, após o dia 26 de outubro, o que pode ser considerado um risco muito grande”, alerta o diretor geral da ABERT, Luis Roberto Antonik. Na região a ser desligada, há pouco mais de 1 milhão de residências.
Segundo o governo, adotando o mesmo critério usado para desligar o sinal analógico na cidade de Rio Verde (GO), no final de agosto, 85% das residências do DF já estavam prontas para receber a TV digital. No entanto, pela metodologia aprovada pelo Gired e defendida pelas emissoras de televisão, esse percentual chegava apenas a 79%.
O diretor da ABERT afirmou que o critério usado pelo governo não reflete a realidade e causa apreensão entre os radiodifusores. “Nem todas as TVs de tela fina têm conversor integrado, muito menos todos os tipos de antenas são adequados. O governo está contando essas televisões como aptas a receber o sinal digital, o que não é verdade. A fabricação dos televisores de tela fina começou em 2007 e hoje já são mais de 87 milhões de aparelhos, mas uma elevada parcela não tem conversor integrado”, afirma ele.
Outro problema apontado está na distribuição dos conversores para famílias de baixa renda que fazem parte dos programas sociais do governo. Os conversores são considerados essenciais para se chegar aos 93% dos domicílios aptos à digitalização.
Em Brasília, há 370 mil kits gratuitos disponíveis, mas 94 mil equipamentos ainda precisam ser entregues até o dia 26. Apesar do esforço de comunicação e logística desenvolvido pela SEJA DIGITAL, entidade responsável pela distribuição dos kits, erros de cadastro nos programas sociais do governo federal estão dificultando a localização dos beneficiários.
De acordo com o conselheiro da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e presidente do grupo que conduz a migração dos canais (Gired), Rodrigo Zerbone, o governo adotará uma margem de erro de 3%. “O desligamento do sinal analógico acontecerá mesmo se a pesquisa final mostrar que 90% das casas estão prontas”, disse.
O levantamento final da pesquisa será conhecido em 24 de outubro, dois dias antes da provável data de desligamento no DF.