O diretor de Tecnologia da Abert, Ronald Siqueira Barbosa, reconheceu nesta quinta-feira a importância de o Ministério das Comunicações “recolocar” na sua pauta de prioridades o debate sobre a digitalização do rádio no Brasil. Barbosa participou do Seminário de Rádio Digital, promovido pelo Minicom.
Um dos mais respeitados técnicos da área, Barbosa disse que a discussão sobre a escolha de um padrão digital para o rádio não é nova no país. O debate iniciou ainda na década de 90, quando foram estabelecidos alguns critérios para a escolha de um sistema, ainda em 1996, lembrou. “A Abert acompanhou todas as discussões sobre o rádio digital desde que elas surgiram e continua disposta a debater o tema”, disse Barbosa.
O uso da mesma faixa e do mesmo canal, além da transmissão em modo analógico e digital estão entre as principais premissas citadas pelo diretor.
Barbosa lembrou ainda que, em 2006, o Ministério das Comunicações convidou a entidade a realizar testes com o padrão HD Radio, à época, o único a apresentar características técnicas e operacionais indispensáveis ao mercado brasileiro. Especialistas da Universidade Presbiteriana Mackenzie, avaliaram o sistema em 2008, com o acompanhamento de integrantes do Minicom e Anatel. Os testes levaram em conta a robustez do sinal, a área de cobertura e a qualidade do áudio.
Características funcionais do DRM e do HD Rádio
Também participaram do painel, representantes das empresas das tecnologias DRM e HD Rádio. Alexander Zink, da DRM, destacou a compatibilidade do modelo com o sistema brasileiro e reforçou a flexibilidade do produto, que é capaz de transmitir o sinal analógico e o digital de maneira simultânea, nas faixas AM e FM.
De acordo com Zink, o modelo europeu tem melhor utilização das freqüências disponíveis, já que “em um mesmo canal é possível transmitir até quatro programas canais de áudio simultaneamente”.
O representante da ibiquity, John Schneider, fez um retrospecto do desenvolvimento do produto. Entre os principais pontos, ele destacou a vantagem do modelo americano de transmitir sinais híbridos, que transportam as informações tanto de maneira digital quanto analógica, utilizando a mesma frequência.
Schneider revelou que mais de 80% do território dos Estados Unidos já está coberto com o sinal de rádio digital e que o México decidiu pela adoção do sistema em junho.
Um sistema brasileiro
O professor Gunnar Bedicks, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, defendeu a possibilidade de o Brasil desenvolver um sistema próprio de rádio digital, com adaptações. Gunnar lembrou que o mesmo ocorreu no processo de adoção do modelo nipo-brasileiro de TV digital , o ISDB-T, que hoje ganha a adesão de vários países.
O professor fez também a ressalva de que a adoção do padrão de rádio digital deve levar em consideração as particularidades da radiodifusão brasileira, com destaque para as rádios AM, as de Ondas Tropicais e de Ondas Curtas. “Não é a adoção de uma tecnologia que vai transformar uma AM. É preciso outros investimentos, como equipamentos.”
O representante da Associação Brasileira de Rádios Comunitárias (Abraço), José Soter, demonstrou preocupação com as interferências nas transmissões com dois padrões de rádio digital. Segundo ele, isso inviabilizaria o funcionamento das rádios comunitárias. Soter também defendeu a adoção de um sistema brasileiro de rádio digital.
O MiniCom, juntamente com parceiros, pretende realizar testes com os dois sistemas de rádio digital. O trabalho consiste em avaliar critérios relacionados à área de cobertura, condições de propagação específica das regiões brasileiras, robustez do sinal, qualidade do áudio e adequação do sistema à portaria que criou o sistema brasileiro de rádio digital. Os testes da tecnologia DRM devem terminar até março do próximo ano. Os testes com a tecnologia HD Radio ainda estão por iniciar.
Foto: Caio Nantes/Correios
Assessoria de Comunicação da Abert com informações do Ministério das Comunicações