Boa tarde a todos.
É com imensa satisfação que me dirijo aos Companheiros da radiodifusão, neste momento em que assumo a Presidência da ABERT, pela confiança em mim depositada por todos vocês, integrantes deste Conselho Superior.
Registro aqui também o agradecimento pela confiança, estímulo e permanente apoio de meu chefe e amigo João Roberto Marinho, que me honrou em ser o primeiro dirigente da Globo a assumir esta Presidência.
Espero não decepcionar os meus amigos e companheiros, dando sequência ao primoroso trabalho realizado pelas lideranças que dirigiram nossa entidade nos últimos 54 anos.
Aqui cheguei em 1998 pela mão de Fernando Ernesto Corrêa e encontrei na Presidência o saudoso Joaquim Mendonça e também o não menos saudoso Luiz Eduardo Borgerth.
Encontrei, pois, o legado de grandes homens da radiodifusão desde João Calmon e José de Almeida Castro, passando por João Saad e Paulo Machado de Carvalho Filho.
Pude acompanhar outros grandes companheiros da radiodifusão como Paulo Machado de Carvalho Neto, José Ignácio Pizzani e Emanuel Carneiro, na construção de nossa entidade, que vem sendo feita tijolo a tijolo, como uma verdadeira corrida de revezamento na luta pela defesa da liberdade de imprensa e de expressão, e por uma radiodifusão independente, livre e gratuita, fator inequívoco de integração nacional e pilar da democracia.
Nossa história foi construída sempre por pessoas com visão de futuro, com o frescor das novas tecnologias e com a crença de que a comunicação social, empresarial e profissional era, mais do que uma atividade econômica, uma responsabilidade com o Brasil.
Quando surgiu a televisão, arautos do apocalipse decretaram o fim do rádio. Esses mesmos decretaram o fim da televisão aberta quando surgiu a TV paga e agora alguns dizem que a internet será o fim de todos. A história tem desmentido todas estas previsões. E continuará a desmentir, pois nosso futuro é alvissareiro.
Evoluímos da válvula ao transistor e agora damos um novo salto para a era digital. A inovação tecnológica nunca nos ameaçou, mas sim, nos proporcionou maior e melhor cobertura e qualidade. A tecnologia será sempre plataforma, e a base da radiodifusão será sempre o conteúdo que produz. Tecnologia sem conteúdo de qualidade, feito com responsabilidade e isenção, não passa de um cano vazio que não saciará a sede de ninguém.
A evolução é fantástica. Na TV em alta definição já estamos trabalhando em 4k, havendo os primeiros experimentos de 8k no Brasil durante as olimpíadas. Estamos em um momento importante para a radiodifusão brasileira, quando se avizinha o desligamento da TV analógica. Acredito no êxito absoluto desse processo. E confio que o Governo Federal não deixará a população brasileira, especialmente os mais pobres, em um momento de crise econômica, sem o seu principal meio livre e gratuito de informação e entretenimento. É o início de uma nova era. O primeiro degrau de uma escada tecnológica que começamos a trilhar.
Assim, vencemos os desafios do século XX e, pelas mãos de nossos associados e empreendedores do rádio e da TV, também iremos triunfar no século XXI.
Estou convencido de que, quanto mais a Era Digital se consolida, mais a radiodifusão se mostra atual. O processo de expansão da internet comercial no Brasil começou em 1995, acompanhando, em boa medida, a tendência global.
As redes de telecomunicações foram capilarizadas e as velocidades aumentaram substancialmente. Soma-se a isso a impressionante revolução da mobilidade, com terminais (smartphones e tablets) e aplicativos. Os televisores conectados caminham no mesmo sentido de popularização, permitindo oferta de conteúdos em alta definição em telas grandes e, muitas vezes, gratuitos. Por meio de aplicativos, o rádio está mais e mais presente na mão de todos os brasileiros. O velho Spica apenas se transmudou para o smartphone.
A internet, portanto, deve ser encarada como uma aliada da radiodifusão. Através dela, canais de rádio e até televisão podem ser acessados ao vivo, ampliando o alcance e conceitos como audiência e prime time.
No campo da informação e da opinião, nunca o jornalismo profissional foi tão relevante e tão indispensável. No novo mundo digital, em que tudo está na rede, a informação e a opinião certificada, editada e com responsabilidade editorial é o que distingue jornalismo de fofoca on line. Se erramos, temos responsabilidade, e, quem quiser reparação, sabe onde está a nossa porta e pode bater.
Faço, assim, meus amigos, uma profissão de fé no jornalismo profissional. É este jornalismo que está produzindo, em várias emissoras, e por várias plataformas, coberturas grandiosas como, por exemplo, a do maior evento esportivo da nossa história: as Olimpíadas do Rio, recém encerradas. Assim, o conteúdo brasileiro, feito por brasileiros e sob a responsabilidade de empresas brasileiras, como exige nossa constituição, é um patrimônio que deve ser preservado e valorizado por nossa nação.
O século XXI chegou para o setor tecnologicamente para melhor servir, entreter e informar. Para esse desafio, estamos prontos. Contudo, vivemos em um mundo regulatório desequilibrado e que ameaça as empresas e o conteúdo nacional.
A radiodifusão é grandemente regulada em aspectos de conteúdo, de formação de capital para empreender e para acessar ao mercado publicitário, enquanto sofremos a concorrência de players internacionais que avançam sobre o mercado publicitário brasileiro sem qualquer regramento ou mesmo de certificação de audiência que possa dar ao mercado segurança do que comprou. Não estão sujeitos a regras trabalhistas, por exemplo, que engessam o desenvolvimento do nosso setor e que não se encaixam no novo ambiente digital.
O futuro da radiodifusão é tão próspero quanto sua história. A forma de se fazer, ouvir e ver televisão e rádio evolui. E os radiodifusores sempre acompanharam as evoluções tecnológicas e, muitas vezes, protagonizaram algumas inovações. A alta definição de som e imagem em tecnologia digital foi uma bandeira do setor. Mas, para que esse caminho virtuoso prossiga, precisamos buscar o saudável equilíbrio para competirmos com outras plataformas que, por sua vez, atuam livremente sem as mesmas regras a que estamos submetidos.
A comunicação social não questiona a classificação da mídia digital como veículo. Mas discorda que tal definição abranja, exclusivamente, bônus e direitos, sem a justa contrapartida de obrigações e ônus que o setor de radiodifusão, por sua vez, está submetido e respeita. E mais: a radiodifusão, assim como os jornais, é responsável por uma enorme fatia dos conteúdos jornalísticos e de entretenimento que são compartilhados, instigando debates e interações nas redes sociais, e, igualmente, suscitando pesquisas aos milhões nos sites de buscas. O direito autoral, assim, é um valor que nossos talentosos profissionais e nossas empresas têm como um de seus mais caros fundamentos.
O Brasil pode se orgulhar de ter um sistema de radiodifusão que presta, diariamente, serviços de informação, cultura e lazer entre os mais sólidos do mundo e com reconhecimento dentro e fora do país. A relação de confiança estabelecida com o público e a identidade com a nossa gente são a grande certeza de que a radiodifusão, responsável por levar conhecimento e emocionar milhões todos os dias, tem um futuro garantido e promissor.
Importante ressaltar, meus amigos, que a tarefa é árdua pela nossa principal razão existencial de defensores incondicionais da liberdade de expressão. Pelos desafios de curto prazo que se colocam à nossa frente, como o desligamento do sinal analógico da televisão, a migração do rádio AM para o FM e a flexibilização da Voz do Brasil. E pela nossa agenda estratégica para o futuro com o novo mundo digital, a concorrência de novos players e as questões regulatórias já colocadas.
A ABERT é uma associação que se constituiu em torno do debate que culminaria no Código Brasileiro de Telecomunicações, em 1962. De lá pra cá, criaram-se mitos em torno do setor, assim como de sua falta de regulamentação. Muito pelo contrário. A cada nova tecnologia, a cada momento histórico, somos bombardeados por novas normas, leis e códigos de conduta, que permeiam nossa legislação. Desde então, e apesar de a Constituição de 1988 ter revisado tudo, tivemos mais de 25 regras editadas para nossa regulação, além de quase 200 novos atos da ANATEL e Minicom que afetam diretamente a prestação de serviço de radiodifusão. No momento, por exemplo, mais de 1.000 proposições tramitam no Congresso Nacional e afetam o setor de Comunicação Social.
A ABERT nasceu em torno da bandeira da preservação de valores como a liberdade de expressão e imprensa. Em 1988, a Constituição da República abraçou fortemente estes valores, cuja responsabilidade de preservação também é nossa.
É esta bandeira, limpa e pura, que recebo agora das mãos do meu companheiro e amigo Daniel Pimentel Slavieiro, de quem deixei para falar no final de propósito. Teria de discursar uma hora a mais, sem parar, para destacar suas qualidades pessoais e profissionais e a relevância de seu trabalho em prol de nosso setor. Seu nome, caro amigo, já está gravado na história da radiodifusão brasileira e todos os obrigados seriam pouco para agradecer e destacar seu trabalho à frente da nossa ABERT. Espero e preciso continuar contando com sua experiência, prudência e competência na gestão que hora se inicia.
No mais, espero contar com a participação, conselho e crítica de todos. Dos companheiros Conselheiros e funcionários da ABERT. Da sua imprescindível ajuda e competência, meu caro Luiz Roberto Antonik, esteio desta entidade. Das Associações Estaduais e de todos os empresários da radiodifusão. Não sou homem de trabalho solitário e, por esta razão, preciso e dependo da participação e da ajuda de todos. É o conjunto que nos faz fortes e conclamo a todos para caminharmos juntos. Apenas juntos, venceremos nossas adversidades e desafios. Quando olho a todos aqui e para cada um de vocês, me reconforto e tenho a certeza do nosso sucesso. Muito obrigado.
Paulo Tonet Camargo