Pedro Doria
Podcasts são rádio sob demanda; assine e ouça quando quiser. No Android, estão escondidos. No iPhone, não mais.
Discretamente, uma mudança no novo sistema do iPhone pode mexer com os hábitos digitais de brasileiros. É a oficialização do aplicativo para podcasts, os programas em áudio ou vídeo que é possível assinar via iTunes.
Podcasts têm vários milhões de usuários no mundo, mas curiosamente nunca decolaram por aqui. São coisa de nicho, tanto no universo Apple quanto no Android. Mas um nicho fiel: quem ouve podcasts faz disso um hábito quase diário. E, ao menos para quem é fluente em inglês, abre um espaço em rádio tão mágico quanto aquele criado pelas operadoras de TV a cabo, quando trouxeram canais estrangeiros para nossas praias.
Podcasts estão integrados ao iTunes desde 2005, antes do smartphone da Apple, antes do Android. Há inúmeros programas à disposição na loja, todos gratuitos, uns tantos amadores, vários profissionais. Basta buscar o que se deseja e clicar em Assinar. No iPhone, estavam escondidos. Era preciso entrar no app de Música e fuçar numa aba escondida. Agora mudou: há um ícone na tela do celular, desafiando o usuário a fuçar do que se trata.
É ainda mais fácil. Nem todos têm o hábito de sincronizar o celular com o computador toda hora. Mas, antes, para baixar os podcasts assinados era preciso fazer isso com frequência. Agora, o iPhone baixa o novo sempre que estiver conectado à rede Wi-Fi.
A oferta é rica. Começa com coisas como o melhor programa de rádio feito do mundo: “This American Life”, semanal, com uma hora de duração, produzido pela rádio pública de Chicago, WBEZ. Ancorado pelo veterano Ira Glass, é o equivalente no rádio ao jornalismo literário. Como contam bem uma história. Às vezes o tema é complexo. Explicar, por exemplo, a crise financeira de 2008. A revista britânica “The Economist” considerou o programa deles o melhor trabalho jornalístico sobre a crise. Às vezes, são temas delicados.
A vida de presidiários que aguardam o perdão governamental após décadas na cadeia, ou a história de um imigrante ilegal que descobre, por teste de DNA, que é o sobrevivente do massacre de uma vila pela ditadura guatemalteca, nos anos 80. Coisa fina.
Três vezes por semana, a mesma equipe produz o “Planet Money”, programas menores e deliciosos dedicados à, pasme, cobertura econômica. “TWiT”, ancorado pelo igualmente veterano Leo Laporte, faz um balanço do noticiário de tecnologia com um painel que reúne os melhores jornalistas do Vale do Silício, sejam autores de blogs, sejam colunistas da grande imprensa. Aqui no Brasil, Alexandre Roldão e Rafael Coimbra, da GloboNews, lançaram recentemente o “NOW”, ou, carinhosamente, “Nerds on Wine”, que, apesar do nome em inglês, é todo falado em português, para discutir, evidentemente, tecnologia.
Rádios americanas vêm descobrindo que podcasts são uma maneira de fazer dinheiro novo com programas que já foram ao ar. Trazem novos patrocinadores para ouvintes que buscam o que gostam sob demanda.
Não dá para estar com o rádio ligado às 15h, mas ouvir o programa passado enquanto corre na esteira, na manhã seguinte, é conveniente. E podcasts não são exclusivos do iPhone. No Android, há apps como BeyondPod e DoggCatcher. Só não ganharam, ainda, a proeminência concedida pelo novo iOS.
Fonte: O Globo
PEDRO DORIA