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Luiz Gustavo Pacete
Argentina, Bolívia, Equador, Venezuela e Honduras. Esses são os países citados por Júlio Mesquita, presidente da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) entre 1990 e 1991 e atual membro do conselho de administração do Grupo Estado, quando o assunto é o retrocesso em que vivem os países da região em relação à liberdade de imprensa.
A polarização entre governos e jornalistas, a violência contra profissionais de imprensa e os inúmeros projetos de lei destinados à regulação da mídia são os principais temas a serem discutidos nos próximos dias 12 e 16 de outubro, na 68ª Assembleia Geral, em São Paulo. A cobertura completa do evento, que reúne representantes de veículos de vários países, você acompanha pelo Portal e Revista IMPRENSA.
Criada em 1942, a SIP se intitula como uma entidade que tem como objetivo defender e promover o direito dos povos das Américas de se manterem e se expressarem livremente.
Mesquita lembra que, em 1972, ano em que a SIP realizou sua primeira assembleia no Brasil, também foram discutidas as ameaças de países totalitários na região. Para ele, o que houve foi um retrocesso já que, 40 anos depois, o mesmo problema persiste.
Em entrevista à IMPRENSA, Mesquita adianta as pautas que serão discutidas na assembleia e destaca os principais problemas da imprensa brasileira.
IMPRENSA - Qual a principal pauta da SIP para a 68ª Assembleia?
Julio Mesquita - O fenômeno do ressurgimento de países com regimes totalitários como acontecia na década de 1970. Cito Venezuela, Equador, Bolívia, Nicarágua e Argentina. Todos eles adotam o princípio de censurar a imprensa e prejudicar o jornalismo livre.
Quais são os problemas da liberdade de imprensa no Brasil?
Os inúmeros projetos que estão no Congresso e tentam ameaçar o trabalho da imprensa. Isso é um fenômeno que o Brasil também herdou de outros países do continente. Do Canadá ao Uruguai, sem exceção, você tem casos de projetos de leis para cercear a imprensa.
E a violência contra jornalistas no país?
É outro tema preocupante. Atentados e assassinatos de jornalistas. Impunidade que também não é exceção em outros países do continente. Crimes que até hoje continuam impunes. Os governos precisam esclarecer essas mortes. Existem vários no Brasil sem solução.
Houve um retrocesso então?
Infelizmente. É como se voltássemos á famigerada época negra da censura, um fenômeno que retornou. Na década de 1970, começo dos anos 1980, havia melhorado substancialmente essa questão, mas agora enxergamos uma piora onde regimes de força ameaçam o jornalismo e a liberdade de imprensa.
Quais seriam esses projetos de regulação da imprensa no Brasil?
São muitos os projetos, principalmente de deputados que tentam de uma forma ou de outra cercear e prejudicar a imprensa. Isso é um fenômeno que o Brasil continua herdando de outros países. Enquanto houver algum país que tenha algum problema, a SIP vai existir.
De que maneira a SIP se posiciona em relação à queda da lei de imprensa?
A SIP não condenava a existência de uma lei de imprensa. No caso do Brasil, ela só condenava a obrigatoriedade do jornalista ter diploma. Ela não é contra as faculdades de jornalismo, mas contra o fato de que antes exigiam o diploma para jornalistas. Qualquer pessoa pode fazer uma reportagem, a partir do momento que ele sabe ler e escrever e tem condições de presenciar e relatar um fato.
Foto: Luiz Gustavo Pacete