No sábado, 18 de julho, completam-se 40 anos do fechamento total da Rede Tupi de Televisão. Naquela data, em 1980, foram lacrados os transmissores de suas emissoras, saindo do ar a TV Tupi carioca (então cabeça-de-rede), canal 6 do Rio Janeiro. Mas o que significou aquele momento?
É preciso recapitular um pouco da história, de uma crise que se arrastava desde o final dos anos 1960. Ela foi agravada principalmente após a morte de Assis Chateaubriand, em 1968 – fundador da Tupi e presidente dos Diários Associados, sendo este um dos maiores conglomerados da época, assim como após a criação do Condomínio Acionário.
Com idas e vindas, audiências baixas e outras até bem altas, de deixar a concorrência bem preocupada, a Rede Tupi oscilou e pode-se dizer, caiu de pé. Até o momento final, estava lá, lutando, tentando se reinventar, muito também ligada ao apego sentimental de seus funcionários por suas emissoras.
Vimos a pioneira emissora, já em 1979, deixando transparecer que as coisas não iam bem. Salários atrasados, greves, demissões, programas saindo do ar, já no início de 1980... Ainda assim, tentando apresentar o melhor da programação, com o melhor do elenco.
Mais forte a crise veio em 2 de maio de 1980, quando o jornalista Saulo Gomes, no programa “Isto é São Paulo”, noticiou o encerramento das atividades do canal 4, a primeira TV Tupi – nascida há 70 anos como a pioneira do Brasil e da América do Sul (inicialmente no canal 3) –, assumindo a cabeça-de-rede a TV Tupi carioca. Só na teledramaturgia vimos casos como as novelas “Como Salvar Meu Casamento” não chegando ao fim e “Drácula” sendo interrompida.
Em 16 de julho do mesmo ano, o governo federal decretou a falência de 6 das 9 emissoras principais da Rede Tupi, incluindo a de São Paulo. Restaram abertas a TV Itapoan (Salvador) e a TV Brasília (Distrito Federal). Tupi paulista e carioca, Itacolomi, Piratini, Marajoara, Ceará, Rádio Clube do Recife... uma a uma, foram saindo do ar, para depois terem seus canais redistribuídos e reinaugurados sob as bandeiras das novas redes: SBT (1981) e Manchete (1983).
A Rede Tupi não queria fechar. Chegou a realizar uma vigília na sede carioca, no antigo Cassino da Urca, para pedir pelo não fechamento da emissora de forma emergencial, capitaneado por Jorge Perlingeiro. Eram pedidos clamando diretamente ao presidente João Figueiredo para que tivesse compaixão com toda aquela situação. Os funcionários queriam assumir o próprio canal. Telegramas, telefonemas, shows gratuitos, tudo para manter de pé empregos, famílias e uma história de 30 anos com o Brasil. Saiu do ar, com seu “T” (logo da época, criado por Cyro Del Nero), avisando, de forma esperançosa: “Até breve, telespectadores amigos”.
Há 40 anos, a TV brasileira parou para ser repensada, com a morte da Tupi. É mais ou menos como uma família que perde seu patriarca, sua matriarca, que influenciou muitos dos que vieram depois.
Estamos hoje, nas quase sete décadas da TV, com a alta tecnologia, com a interatividade, com a Internet, com o broadband, com a TV 2.5, nos perguntando: o que seremos após a pandemia? Assim como os primeiros dos anos 1980, pensamos no futuro, sobre quais os rumos da televisão – e da radiodifusão – como um todo. Que tenhamos conosco a vontade de nunca desistir, como nos ensinaram os chamados “tupiniquins” televisivos, pioneiros dessa história. Numa crise, ou você se acomoda, ou reage.
Elmo Francfort