Há campanhas permanentes de ataque à imprensa profissional brasileira com o objetivo de desacreditar o jornalismo e, com isso, abrir caminho para validar falsas narrativas e desestabilizar a democracia. Essa é uma das conclusões de uma pesquisa do Laboratório de Estudos de Internet e Mídias Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (NetLab/UFRJ) apresentado nesta quarta-feira (15), em Brasília, pelos professores Rose Marie Santini e Márcio Borges durante o 1º Seminário sobre os Desafios e Ações na Era Digital, promovido pela ABERT e pela Associação Internacional de Radiodifusão (AIR).
Segundo os professores, as campanhas contra a imprensa são uma verdadeira máquina de desinformação que gera receita e, por isso é autossustentável e opera como “business”. Esse negócio é financiado em parte por políticos, muitos sem grande expressão, e por uma cadeia que envolve a atuação de sites extremistas e perfis falsos automatizados (bots, que no Brasil são em número superior à média global). Essa configuração se aproveita das características dos algoritmos de recomendação – que priorizam alta audiência e engajamento – para manipular as redes sociais e dar "falsa relevância" aos temas de interesse dos patrocinadores de falsidades. A rede desinformativa se completa por meio dos aplicativos de mensagens.
“Não se cria campanhas todos os dias, elas perduram no tempo porque a repetição vai criando uma um viés de confirmação”, disse Santini. Segundo ela, há cinco ideias desinformativas estabelecidas pelas campanhas contra a imprensa profissional: 1) O jornalismo tem interesse político e, por isso, produz fake news; 2) Os sites ligados às redes de desinformação, de junk news, é que são os verdadeiros propagadores da verdade e defendem a liberdade de expressão; 3) A mídia tradicional é autoritária e quer nos calar, nos censurar; 4) A mídia defende a imoralidade contra os princípios da família de dos cidadãos de bem; e 5) A imprensa tradicional frauda a opinião pública em uma parceria com os institutos de pesquisa e autoridades. A essas ideias se soma a prática de violento ataque a jornalistas mulheres.
Santini afirmou ainda que o estudo levanta a hipótese segundo a qual, já a partir de 2021, houve uma preparação que permitiu a intensificação desinformativa nas eleições gerais de 2022.