“A política serve para melhorar a vida de todos, e não para enriquecer um grupo político ou para atender a determinados interesses econômicos”. A afirmação é do deputado Marcelo Calero (CIDADANIA/RJ), em entrevista à Rádio ABERT.
O parlamentar também é diplomata e foi ministro da Cultura no governo Temer. Ele visitou a sede da Associação e foi recebido pelo diretor geral Cristiano Lobato Flores e pelo diretor de Relações Institucionais, Márcio Maciel.
Leia os principais trechos da entrevista. A íntegra pode ser acessada aqui.
Deputado, como diplomata, o senhor teve a oportunidade de conhecer a política em outros países e acredito que essa experiência possa ter influenciado seu modo de ver e fazer política aqui no Brasil. Como o senhor avalia a política no nosso país e qual seria uma agenda para o Brasil na sua opinião?
Eu acho que o Brasil deu uma grande lição ao mundo nas últimas eleições e na mobilização que houve da sociedade. Não estou falando de esquerda ou de direita, a sociedade hoje fala muito de política. Isso é muito importante porque a gente tem que entender que não existe mobilização social sem a política. A gente pode querer falar mal do prefeito, do governador, do vereador, dos deputados, e isso tudo é normal, porque precisamos, sim, fiscalizar de perto aqueles que detêm o poder, mas a gente precisa entender também que, se decisões não forem tomadas no âmbito político, a gente não vai conseguir melhorar a educação, a saúde, diminuir a desigualdade... Ou seja, a política é um instrumento essencial para a gente melhorar a vida do cotidiano dos brasileiros. Eu acho que a agenda do país precisa estar concentrada precisamente nisso: a política serve para melhorar a vida de todos, e não para enriquecer um grupo político ou para atender a determinados interesses econômicos. Para isso, precisamos controlar a inflação, fazer com que as escolas públicas funcionem, que os postos de saúde sejam mais eficientes e que as pessoas se sintam mais seguras, pois há um clima de insegurança no país. Para resumir tudo isso, eu digo: a política serve para que o governo preste serviços melhores ao cidadão. Essa é a grande missão de qualquer governo.
O senhor acredita que as novas plataformas digitais ajudam a população a participar mais da política?
As plataformas digitais ajudam de duas maneiras. Primeiro, porque elas permitem que o cidadão tenha mais acesso à informação de uma forma geral. Ou seja, para que a gente saiba quando será uma campanha de vacinação, matrículas nas escolas, oportunidades de emprego e até para ajudar os filhos no trabalho escolar. Enfim, todas as informações de serviços para o cotidiano podem ser obtidas de forma mais fácil por meio das plataformas digitais. Por outro lado, as plataformas digitais também ajudam na participação política do cidadão, primeiro na fiscalização, pois é muito importante lembrar que quem tem o poder, precisa ser fiscalizado, e para isso acontecer, precisamos ter acesso aos dados, mostrando o que o governo está gastando e onde ele está investindo. Então o outro aspecto é que, a partir desses dados, conseguimos fazer uma rede política, que é nos agruparmos em torno de causas e afinidades e criar redes de relacionamento político.
Com as redes sociais, o fenômeno das fake news foi intensificado. O senhor acredita que o jornalismo profissional ajuda no combate às notícias falsas?
O jornalismo profissional é absolutamente imprescindível para que a gente combata as fake news. As notícias falsas normalmente não possuem autor ou têm autoria de pessoas que não têm qualificação para produzir notícia e normalmente essas notícias tentam atingir a reputação de alguém ou simplesmente disseminar uma notícia que não é verdadeira para fazer algum tipo de direcionamento de mercado. Um exemplo que todas as pessoas vão lembrar é a pílula do câncer. Há mais ou menos uns cinco anos surgiu uma histeria na internet dizendo que um pesquisador de uma universidade teria descoberto uma pílula milagrosa para combater o câncer. A ANVISA já tinha avisado que a pílula não funcionava, o Congresso Nacional aprovou uma lei liberando a pílula e a presidente da República sancionou essa lei. No final das contas, descobriu-se que, de fato, como a ANVISA já havia dito, a pílula não funcionava. Gastaram dinheiro público, muitas pessoas tiveram suas esperanças falsamente renovadas e, vou dizer mais, pessoas que deixaram de fazer o tratamento acreditando na pílula do câncer podem ter morrido. Então, acho que a pílula do câncer é um grande exemplo de que precisamos combater as notícias falsas, não apenas porque podem destruir a reputação de muita gente, mas também porque elas podem ser nocivas para nossa própria vida.
O senhor é muito ligado às discussões culturais. É membro da Comissão de Cultura e acabou de fundar a Frente Parlamentar da Economia Criativa. O que a radiodifusão pode esperar dessa frente?
A gente tem que lembrar que quando falamos de economia criativa, falamos de uma cadeia produtiva muito ampla e abrangente, desde as pessoas que se dedicam ao artesanato, ao ponto de costura que aprendeu com a avó e ninguém mais conhece, até a área de produção digital, o design, a moda, o entretenimento... Tudo isso faz parte da economia criativa. Ou seja, a economia que surge a partir da criatividade do ser humano. A radiodifusão tem um papel essencial nisso por vários aspectos. Primeiro, porque ela é responsável por difundir essa produção e, também, porque, ao produzir seu conteúdo, ela nada mais faz do que economia criativa. Então essa frente está compromissada em entender os desafios do setor e fazer com que ele seja cada vez mais forte na geração de emprego, renda e desenvolvimento do nosso país.
O principal desafio do governo no momento é a reforma da Previdência. O senhor acredita que a Reforma é um projeto de Estado e não de partido ou de Governo?
A reforma da Previdência é essencial para o futuro do país. Não pertence a um governo ou a um presidente. Ela precisa, realmente, ser encarada com muita seriedade por todos nós brasileiros, porque a população está envelhecendo, e isso é muito bom, mas, ao mesmo tempo, isso traz alguns desafios para que a Previdência pública seja viável e saudável do ponto de vista financeiro. Eu mesmo tenho uma avó de 97 anos, uma benção na minha vida, mas o fato é que antigamente não era tão comum termos pais e avós com idade tão avançada. Graças a Deus essa realidade mudou, mas isso traz desafios.