O Brasil deixou de ser um país livre de sarampo e teve três mortes pela doença apenas em São Paulo. Uma das causas é a divulgação de notícias falsas sobre as vacinas. O deputado Pedro Westphalen (PP/RS) falou, em entrevista à Rádio ABERT, sobre imunização, fake news e liberdade de imprensa.
O parlamentar visitou a sede da ABERT e foi recebido pelo diretor de Relações Institucionais, Márcio Maciel, pela diretora de Comunicação, Teresa Azevedo, e diretores de entidades ligadas à comunicação.
Leia os principais trechos da entrevista. A íntegra pode ser acessada aqui.
O senhor é médico e coordena o grupo de trabalho sobre imunização da Câmara. Tem acontecido um movimento antivacina, muito potencializado pelas fake news. Por que a vacinação é tão importante e o que tem sido feito pelo governo para combater esse movimento?
A vacina é um dos instrumentos mais importantes para evitar a morte. Hoje, nós não temos poliomielite. Essa geração de mães de 20, 30 anos nem sabe o que é isso. Eu tenho amigos que tiveram poliomielite, que morreram por isso. Com a vacina, essa doença foi praticamente erradicada no mundo. Lamentavelmente, apesar de termos no Brasil um PNI, Plano Nacional de Imunização, exemplar no mundo inteiro, nós não estamos atingindo os níveis necessários para dar tranquilidade aos nossos cidadãos. Tanto é que, recentemente, perdemos a condição de país livre de sarampo e já tivemos três mortes em São Paulo pela falta de imunização dos nossos jovens, das nossas crianças e até dos nossos adultos. Vários fatores determinaram isso: a própria excelência do Plano Nacional de Imunização, que levou a uma certa tranquilidade; a falta de preparo dos profissionais para fazerem as indicações corretas - são vinte e uma vacinas-; a falta de obrigações dessas vacinas; e outros fatores importantes, como a fake news. E aí a importância da imprensa de desfazer essa imagem de que a vacina traz efeitos colaterais nocivos. Pelo contrário, ela salva vidas. Vou te dar um exemplo: no Rio Grande do Sul, onde a gripe acontece com mais frequência pelo clima muito variável, a vacinação acontece antes da época do resto do Brasil. Mas ela atinge o pico quando morre uma ou duas pessoas. Aí todo mundo corre para se vacinar. Então é uma questão complicada. Eu tinha uma tia que não se vacinava porque disseram a ela que a vacina podia dar AIDS. Então são os grupos de fake news antivacinais que são muito nocivos e a imprensa se deu conta disso e está repercutindo esse tema. Isso é muito bom, porque nós chegamos a todas as casas do Brasil pelo rádio, televisão e podemos fazer essas manifestações.
Então o senhor acredita que o jornalismo profissional é o antídoto contra as notícias falsas?
Sem dúvida nenhuma. Tanto é que conversamos sobre esse tema no grupo de trabalho e não esperávamos a repercussão que está tendo. Nesse caso específico, é talvez o maior antídoto contra esses grupos antivacinais e as fake news.
O governo tem feito algo para combater as fake news?
O governo está ampliando o sistema de vacinação, está fazendo campanha de divulgação da importância das vacinas. Como é que se combate as fake news? Ou se faz uma ação policial para poder descobrir de onde vem ou se faz uma maciça propaganda contra as fake news, com ações, conversando sobre os benefícios de uma vacina e não de coisas que não são verdadeiras.
O que o senhor espera do grupo de trabalho sobre imunização?
Nós estamos vendo que as causas que levam essa diminuição de vacinas são problemas não só dos grupos requeridos, mas também da falta de produção de vacinas. Nós temos que estimular a pesquisa no Brasil, a transferência de tecnologia, os institutos, por exemplo, a Fiocruz e o Butantan, para fazer uma mescla do privado com o público. Nós precisamos que o Estado esteja presente, principalmente em vacinas de baixo custo. Precisamos orientar as faculdades de medicina e médicos sobre a importância da vacina, ter equipes multidisciplinares, melhorar a logística de distribuição, de conservação, de administração. Então, esse trabalho está nos trazendo dados fantásticos. Só uma vacina atingiu os níveis satisfatórios, que foi a BCG. Precisamos desenvolver essa série de ações e, por isso, envolvemos os legislativos municipais, estaduais e federais para que, através de leis municipais, estaduais e federais, se disponha desses meios para que possamos atingir de novo o nível de satisfação pela qualidade do PNI.
Uma das principais bandeiras da ABERT é a defesa da liberdade de imprensa e de expressão. Frequentemente acompanhamos alguns casos de cerceamento de jornalistas e veículos de comunicação. O senhor acredita que esse direito pode estar ameaçado?
Não pode, não deve. A gente pode não concordar com a imprensa, mas tem que deixá-la livre de maneira absolutamente tranquila, transparente. A gente pode discordar das ideias, mas não pode cercear. A democracia se fundamenta na liberdade de expressão, com uma imprensa totalmente livre. Não se pode, de maneira nenhuma, cercear a imprensa.