“O tempo de palanque já passou. Esse radicalismo tem que acabar para que possamos viver harmonicamente e resolvermos os problemas da economia do país”. A avaliação é da senadora Simone Tebet (MDB-MS), primeira mulher a presidir a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, em entrevista à Rádio ABERT. Ela visitou a Associação na quinta-feira (23), quando foi recebida pelo presidente Paulo Tonet Camargo, conselheiros e diretores de entidades ligadas à comunicação.
A senadora falou sobre as pautas da CCJ e afirmou que “todos devem recolher suas armas ideológicas e trabalhar pelo Brasil coletivamente”. Leia os principais trechos da entrevista. A íntegra pode ser acessada aqui.
A senhora preside a principal comissão do Senado Federal, a CCJ. Por lá passam os importantes projetos que tramitam no Parlamento. Nesses primeiros meses, quais os temas prioritários?
A prioridade é o Brasil. A CCJ é o coração e também o pulmão do Senado Federal. Consequentemente, ali temos que ser eficientes e rápidos porque o Brasil tem pressa e temos que colocar na pauta os projetos mais relevantes.
Basicamente nós temos na CCJ, que é a comissão que trata da constitucionalidade dos projetos, a pauta de segurança pública e as pautas econômicas. Então, a gente vota os projetos mais importantes antes de eles serem pautados para o plenário do Senado. Nesta semana, antes tarde do que nunca, aprovamos a criminalização da homofobia, um projeto que deveria ter sido regulamentado no Brasil há mais de 20 anos. E deixamos bem claro, que da mesma forma que matar alguém pela cor da pele ou matar uma mulher em razão de ela ser mulher é um crime qualificado específico, provocar uma lesão corporal ou matar alguma pessoa em razão da sua opção sexual vai ter que ser processado e condenado por esse crime específico.
Pela primeira vez uma mulher comanda a CCJ do Senado. Qual é a sensação? Mais responsabilidade? A senhora já pensou no porquê da demora em uma mulher presidir a CCJ?
Mais responsabilidade porque somos muito poucas na política. Não gosto muito desse título, isso particularmente me entristece. Em pleno século XXI, eu fui a primeira mulher prefeita da minha cidade, a primeira mulher vice-governadora do meu estado, a primeira líder do MDB no Senado, e olha que o Senado tem quase 200 anos, e agora a primeira presidente da CCJ. No entanto, eu fico feliz que estou abrindo caminho e outras mulheres venham. Essa questão de poucas mulheres na política vai mudar e está sendo solucionada, porque o Supremo Tribunal Federal nos atendeu em um pedido. Já que somos 30% de candidatas, então 30% dos recursos financeiros e do tempo de rádio e televisão na campanha eleitoral serão para mulheres. Consequentemente, vamos disputar em pé de igualdade com os homens. O problema é que nós nunca disputávamos em pé de igualdade com os homens, porque eles recebiam mais dinheiro e tinham mais tempo de televisão. Em 2018, pela primeira vez, tivemos uma eleição em que as mulheres tiveram, proporcionalmente, o mesmo tempo de TV que o homem e a mesma quantidade de recursos financeiros. O resultado: tivemos um aumento do número de deputadas federais eleitas. É um avanço.
Como a senhora avalia o ambiente político atual? Na recente eleição, tivemos uma grande polarização. Essa polarização atrapalha o trabalho dos parlamentares?
Sem dúvida nenhuma, atrapalha. O tempo de palanque já passou, esse radicalismo tem que acabar. Esquerda e direita já são uma coisa ultrapassada, ainda que tenhamos que defender as nossas ideologias. Acho que o presidente da República tem um papel fundamental nesse momento. Agora está na hora de recolheremos as nossas armas ideológicas e pensar no Brasil coletivamente. Na parte econômica, nós temos 13 milhões de desempregados e 5 milhões de pessoas desalentadas. Somando todos, são 40 milhões de pessoas que ganham menos de um salário mínimo e não têm carteira assinada. Esse é o problema do país. O resto, a gente pode esperar. Então vamos recolher nossas armas ideológicas, vamos conviver harmonicamente e resolver o problema da economia. Acho que o presidente tem que ajudar nesse sentido e descer do palanque. Eu quero ajudá-lo a ajudar o Brasil, mas é preciso que ele dê o exemplo.
Uma das grandes bandeiras da ABERT é a defesa da liberdade de imprensa e de expressão. A senhora acha que essas liberdades fundamentais podem estar em risco?
Não, independente do governo que vier e esse é o lado bom das redes sociais. Embora as redes sociais, muitas vezes, mostrem só uma parte da sociedade, elas fizeram com que a sociedade começasse a participar mais da política. Claro que deve haver um amadurecimento, pois em alguns casos as pessoas caminham para o lado errado. As ruas e as manifestações populares estão fazendo um grande serviço. Eu sou a favor de qualquer manifestação de rua desde que seja pacífica e jamais contra o estado democrático de direito. Então, nesse aspecto, a rua é a primeira a dizer “eu tenho o direito a falar” e qualquer um pode falar. Os veículos de comunicação são a voz da rua. Então, a própria rua defende o direito de liberdade de expressão de um jornalista, de um radialista e de todos os veículos de comunicação.