Leonardo Stamillo, gerente de jornalismo da rádio CBN, Marcelo Lins, editor-chefe do Globo News Especial, e Heródoto Barbeiro, âncora da Record News, abriram o segundo e último dia do Mídia.JOR debatendo os desafios da cobertura 24 horas. Os três comentaram as características de seus veículos, o impacto da tecnologia na comunicação, o equilíbrio do noticiário local e nacional e a importância da participação do público.
O painel Diálogos IV "Caminhos da Notícia - desafios da cobertura 24 horas" foi mediado por Théo Rochefort, diretor de Comunicação da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT).
Para Stamillo, fazer jornalismo 24 horas é fascinante e apaixonante, mas muito desafiador. No caso da CBN, ter uma equipe multidisciplinar é fundamental para tornar a flexibilidade da programação possível. “Temos 60 jornalistas. São 60 repórteres. Todo mundo sabe fazer e tem condições técnicas de ir pra rua, trazer o que ouviu e transmitir para o público”, explica.
No caso do Globo News Especial, Lins explicou que, muitas vezes, é inevitável repetir algumas notícias ao longo do dia. “Buscamos tirar o peso do jornal”, diz. Ele ressaltou que o melhor caminho é fazer o simples. “O jornalismo muitas vezes se perde quando o jornalista se vê como dono da notícia e apenas como o cara que vai dar a luz para seu povo”, criticou.
Lins defendeu ainda que é mais importante focar o conteúdo, e só em um segundo momento ver como trabalhá-lo. “Mais importante do que saber a plataforma, é a qualidade do que será produzido para ser lançado em diversas plataformas”, afirma. “O conteúdo é o que determina o sucesso ou o fracasso de qualquer veículo”, completa Stamillo.
E em dias de "vacas magras"?
"Atrair atenção em grandes coberturas é fácil. E quando não tem? O profissional precisa tornar atraente a notícia diária", apontou Lins. Stamillo explicou que rádio, por exemplo, tem a característica de rotatividade de ouvintes, o que obriga repetir algumas notícias muito relevantes ao longo do dia inteiro. “Mas sempre com um tratamento diferente, uma edição melhor, um novo cuidado, um algo a mais”, diz.
Stamillo comentou o projeto “Seu bairro, nossa cidade”, que levou quatro repórteres da rádio a visitarem 96 distritos de São Paulo para ouvir dos moradores os problemas locais e traçar um raio-x de cada lugar. Para ele, em ano de eleição, por exemplo, todos os veículos fazem uma cobertura semelhante, no entanto, “o declaratório é muito pouco para ajudar o ouvinte a definir seu voto.” Stamillo afirma que a aposta da rádio é fugir da agenda. “Notícia virou quase uma commoditie”, diz.
O projeto durou quatro meses e contou com debates mensais abertos ao público sobre os principais temas e matérias especiais na rádio. A iniciativa deu tão certo que vai virar quadro fixo semanal na CBN.
Não dá para segurar a notícia
Barbeiro brincou com o fato de “não saber onde trabalha”, explicando que com tantas plataformas integradas, o conteúdo produzido por ele circula com mais rapidez em inúmeros veículos e formatos. Para o jornalista, vivemos uma terceira revolução industrial, que impacta diretamente na comunicação. “Mesmo que haja censura do Estado, da imprensa, do veículo, do patrocinador, a notícia se propaga”, afirma.
Barbeiro comemora as transformações que colocaram na mão de jornalista, do cidadão, do eleitor e do contribuinte a possibilidade de participar. “É claro que o grande repórter existe, mas hoje ele tem muito mais colaboração. Não dá mais para segurar a notícia. Você vai querer esconder o óbvio?”, questiona. “E é dentro dessa realidade que nós jornalistas estamos mergulhados. Precisamos olhar pra isso ou seremos atropelados”, alerta.
A plateia pergunta...
Saber como a reação das pessoas nas redes sociais interfere na programação enquanto ela acontece foi uma das perguntas feitas aos participantes. "Quanto mais conseguirmos trazer o ouvinte para a produção das nossas pautas, melhor", afirma Stamillo, que também defendeu a importância do eco nas redes. “Enquanto estivermos recebendo críticas dos dois lados, estamos no caminho certo”, diz.
Para Lins, é importante saber a reação. “É um balizador, mas não pode ser o único. Temos que olhar com bom senso, claro. Mas essas redes abriram um campo para pegarmos sugestões, tendências, que não pode ser ignorado”, defende.
Com muitos estudantes presentes, saber se a formação da faculdade prepara para o jornalismo hardnews foi uma das questões. Para Lins, "a formação do jornalista só vai se dar quando ele, de fato, começar a trabalhar na práticas". Já Stamillo criticou a forma como esses profissionais chegam no mercado. "As pessoas chegam à redação bem tecnicamente e mal culturalmente. Isso não leva ninguém a lugar nenhum", diz.
"Essa preparação não é só problema para jovem, é para todo mundo. Eu com 66 anos, me vi como foca na Olimpíada. Todos nós estamos sendo atropelados pelo mesmo caminhão", finaliza Barbeiro.