A relação entre o jornalismo local e a liberdade de imprensa foi tema de debate virtual promovido pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de São Paulo e pela Associação Nacional de Editores de Revista (ANER), para lembrar o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, comemorado em 3 de maio. O webinário foi transmitido na segunda-feira e reuniu representantes do setor jurídico e de comunicação.
Presidente da ANER, Rafael Menin Soriano, destacou a entrada do Brasil na zona vermelha para o exercício do jornalismo, segundo estudo realizado pela organização Repórteres sem Fronteiras. Ele também citou os desertos de notícias, regiões que não possuem nenhum noticioso. Atualmente, 30% da população brasileira vive nessas localidades. “A população não tem a voz e vigília que o jornalismo faz e não têm como se expressar, é pouco ouvida e acaba ficando mais isolada. A preservação da democracia passa pela preservação do jornalismo local”, alertou.
O diretor de Jornalismo do Grupo Bandeirantes, Rodolfo Schneider, ressaltou a expansão do jornalismo local durante a pandemia de COVID-19. Em sua participação, ele destacou a importância do rádio para criar interatividade, trazer a sociedade para dentro do debate, usando a tecnologia a seu favor. “O meio se redescobriu, se aproximou da audiência e se fortaleceu Brasil afora. Leva informação e cria laços, o que é fundamental para a sobrevivência dos veículos. Os ouvintes não querem mais ouvir discurso de forma passiva, querem construir junto, participar cada vez mais da programação”, apontou.
Já a presidente da Associação Paulista dos Magistrados (Apamagis), Vanessa Ribeiro Mateus, reforçou que os veículos locais são os que mais sofrem constrangimentos por parte de autoridades regionais. Segundo ela, por não estarem diante dos holofotes, não conseguem dar visibilidade a esses casos. “O Poder Judiciário é a última trincheira da imprensa e um Poder Judiciário forte e independente não vai permitir que os direitos dos grandes e dos pequenos sejam aviltados, mas sem uma imprensa livre não há Judiciário independente”, afirmou.
A autonomia da mídia deve caminhar em paralelo com a sustentabilidade dos veículos, concluiu a jornalista Ana Brambilla. Ela explicou que a verba publicitária vem migrando para as empresas de tecnologia e a imprensa está investindo em outros modelos de atuação, como assinatura de conteúdo e informação posicionada. “É preciso encontrar uma função de educação dentro da imprensa”, defendeu.
O editor executivo do Diário da Região, de São José do Rio Preto (SP), Fabrício Carareto, relatou o caso de tentativa de quebra do sigilo da fonte por parte de autoridades locais investigadas por uma operação policial. O episódio se desenrolou por 10 anos e só teve desfecho, favorável ao periódico, no Supremo Tribunal Federal (STF).