Desde o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho (MG), há duas semanas, muitas rádios mineiras mudaram a programação e estão mantendo os ouvintes informados sobre a tragédia que causou, até o momento, a morte de mais de 150 pessoas. Enquanto os trabalhos de busca aos desaparecidos continuam, emissoras predominantemente musicais deram lugar a boletins informativos que, a todo momento, atualizam as notícias locais. Outras suspenderam a programação de carnaval, entrevistas com cantores e programas humorísticos para acompanhar os acontecimentos em Brumadinho.
A diretora de jornalismo da Rádio Itatiaia, Maria Claudia Santos, lembra, com pesar, da cobertura de uma outra tragédia, ocorrida há três anos, quando a barragem da cidade de Mariana se rompeu. Dessa vez, Maria Claudia estava de férias quando soube que a população de Brumadinho havia sido atingida por outro rompimento. Ela conta que suspendeu o recesso e enviou imediatamente dois repórteres para a cidade. “A gente precisava informar a população sobre tudo que acontecia. Criamos programas inteiros só para dar espaço para a cobertura, modificamos totalmente alguns formatos para dar voz aos nossos ouvintes. Esse é o perfil da rádio, então orientamos nossos repórteres para que deixassem a população desabafar”, diz.
Maria Claudia afirma que a cobertura jornalística sensibilizou toda a equipe, em especial, os repórteres que viram de perto as dificuldades enfrentadas pela população. “Fizemos uma cobertura de mais de 90 horas direto, ao vivo de Brumadinho, com repórteres que praticamente não dormiam e que se recusavam a sair dali antes de terminar o trabalho. Toda a equipe se comprometeu, entendeu a situação e esteve lá de plantão, ajudando até mesmo naquelas funções que não cabiam a eles no dia a dia. Muitas informações chegavam também dos ouvintes, o que nos ajudou muito na apuração das notícias”, conta.
Segundo Maria Claudia, a Rádio Itatiaia também ajudou os sobreviventes a localizar abrigos, postos de coletas e doações. “É nessas horas que a gente sente o pulsar tão intenso da força que o rádio tem. Independentemente de qualquer mudança na sociedade, com a internet, redes sociais, o rádio é forte e potente. Vimos uma audiência fiel, cheia de confiança no nosso trabalho e em especial no veículo, que foi muito utilizado para combater as fake news que surgiam sobre a tragédia de Brumadinho”, lembra.
Bruno Favarini, redator da Rádio Alvorada, conhecida pela grade musical, custou a acreditar que o rompimento da barragem em Brumadinho não era mais uma notícia falsa compartilhada por grupos de mensagens.
Com a confirmação, a Alvorada alterou a programação para que a população acompanhasse as informações. “Nós não temos a característica de fazer coberturas jornalísticas e não podíamos mandar nossa equipe para Brumadinho. Então, decidimos fazer a cobertura de longe, com apuração por telefone e internet. Temos parceria com uma empresa que fornece repórter aéreo, então passamos a fazer duas inserções ao vivo e a compartilhar toda a informação que conseguíamos. Continuamos tocando música, intercalando com boletins informativos de hora em hora”, explica.
Já a Rádio BandNews FM, que transmite notícias 24 horas por dia, priorizou, na programação de Minas Gerais, as informações sobre o ocorrido. “Ainda que a rádio seja só de notícias, muita coisa mudou na programação. Eu fazia entradas ao vivo para todas as filiais do Brasil, mas na filial mineira me deram passe livre para entrar a hora que eu quisesse com informações novas e entrevistas”, afirma Mardélio Couto, repórter que acompanha os desdobramentos em Brumadinho.