WASHINGTON. Políticas intervencionistas estabelecidas em diferentes níveis da sociedade têm sido uma crescente ameaça às escolhas pessoais e às liberdades individuais.
Essa é a principal argumentação do escritor e articulista americano David Harsanyi, e tema central de seu livro “O Estado babá — Como radicais, bons samaritanos, moralistas e outros burocratas cabeças-duras tentam infantilizar a sociedade” (Editora Litteris). O autor denuncia um Estado demasiadamente protetor e paternalista como agente transformador dos cidadãos em crianças mimadas e vitimizadas.
Na sua mira, estão leis contra o fumo em locais públicos, o cerco a alimentos considerados não saudáveis, censuras às bebidas alcoólicas e várias regras sociais definidas por ele como intromissões nocivas nos direitos dos indivíduos.
Harsanyi estará no Brasil este mês: no dia 15, em São Paulo, participará, às 20h, do lançamento da edição brasileira do livro no espaço de eventos do restaurante Figueira Rubayat; no dia seguinte, no Rio, fará às 9h a palestra de abertura do seminário “Democracia & Liberdade de Expressão”, promovido pelo Instituto Millenium, no Hotel Windsor Atlântica. Lançado em 2007, seu ensaio provocou polêmica nos EUA. Hoje, quatro anos depois, ele diz que o poder do politicamente correto e as ambições intervencionistas do Estado recrudesceram em países tidos como democráticos.
— Em alguns aspectos, hoje há muito mais liberdade por causa da democracia da informação, vide o caso das revoltas agora no Oriente Médio. Mas, no mundo livre em geral, e nos EUA em particular, acredito que a situação está piorando, com uma intrusão cada vez mais frequente do governo no comportamento pessoal, na maneira como nos alimentamos, bebemos, fumamos — afirma.
— Isso se agrava, e acho que é uma da razões pelas quais o Tea Party (movimento ultraconservador americano) foi para as ruas na última campanha eleitoral.
Há uma exigência por mudanças, muitos pensam que o Estado deve se retrair.
Práticas não têm uma coloração política
Harsanyi não define, no entanto, uma coloração política para as práticas que denuncia.
Para ele, os conservadores têm uma tradição de pôr o foco mais em temas de valores morais, como a pornografia, mas “nem esquerda nem direita são inocentes”, diz.
— No período do presidente Barack Obama, os progressistas têm liderado em questões como alimentação, saúde pública, ecologia; na imposição de quais carros devemos comprar ou que tipo de lâmpada devemos usar. Mas isso se dá em diferentes níveis: no federal, mas também localmente, via administrações de escolas ou conselhos municipais. O escritor é contra a interdição total de fumar em restaurantes.
Para ele, “os não fumantes poderiam optar por um estabelecimento em que o cigarro não seria autorizado”.
Também é contra grupos que pregam o a proibição da gordura trans ou satanizam o uso do sal.
Ele defende a liberdade “para escolher o que comer, seja saudável ou não”. Seu credo é a valorização do “convencimento” contra a tentação da “coerção”.
— Se vamos proscrever todos os alimentos considerados insalubres, não sobrará muito o que comer. Eu sou a favor da transparência total para os consumidores. O Estado pode alertar os cidadãos no pacote de cigarros que fumar pode causar câncer. Não pode é praticar a coerção. Há uma distinção entre os dois, entre proibir e explicar para alguém por que não se deve fazer isso ou aquilo — defende.
Em sua primeira viagem ao Brasil, Harsanyi se diz curioso em conhecer um pouco do país e conta que amigos comparam São Paulo a Nova York e o Rio, a Los Angeles. Ele acredita que seu discurso terá alguma ressonância entre os brasileiros.
— Não sou expert em Brasil, mas penso que muitas pessoas devem ter as mesmas preocupações nesses temas. É um país próspero, e tenho certeza de que cidadãos brasileiros também lidam com várias tensões entre liberdade individual e organizações coletivas.
Foto: www.imil.org.br (Instituto Millenium)
Fonte: O Globo / correspondente Fernando Eichenberg