O médico pela Unicamp e gestor de saúde pública pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), Odair Albano, e a jornalista Andrea Martins voltaram ao AESP Talks para falar sobre a situação atual da pandemia no Brasil e na Europa. O encontro online, promovido pela Associação das Emissoras de Rádio e Televisão do Estado de São Paulo, aconteceu na quinta-feira (2).
Atualmente, as cidades do interior do Brasil se tornaram epicentro da COVID-19. Segundo Odair Albano, o novo coronavírus passou a circular com mais força nas localidades menores onde há carência de atendimento hospitalar. “Em abril, a proporção de infectados entre a capital e o interior era de 9 para 1. Na última semana, a proporção caiu para 2,5, o que mostra que os casos no interior estão crescendo. É muito importante que os recursos, inclusive, migrem para essas regiões. Os casos nas áreas menos assistidas podem aumentar significativamente o número de casos de mortes. O nosso temor é se o Sistema Único de Saúde vai suportar o grande número de casos graves”, alertou.
Na avaliação do médico, a questão do tratamento precoce, em discussão pela comunidade médico-científica, pode ter interferido no cenário brasileiro. “O Brasil ficou muito tempo sem nenhum tratamento precoce. Mesmo sem comprovação científica, no exterior, o volume de médicos que prescreveram remédios para minimizar as complicações da doença logo no início foi muito maior, o que pode ter impactado diretamente as estatísticas”, disse. Ele contou que países como a Itália e a Espanha adotaram a medida imediatamente após do colapso do sistema hospitalar e obtiveram uma melhor performance. A partir desses casos surgiram as discussões sobre o uso de medicamentos como o corticóide que tem ação inflamatória.
Além disso, Odair ressaltou o fato de que a testagem não está sendo realizada de maneira correta. “O sistema de coleta deve analisar os dados de frequência do vírus na região. O indivíduo que apresenta os sintomas deve ser tratado e isolado. Mas são poucos os lugares no Brasil e no mundo que fizeram isso. Por aqui, vários casos que não eram COVID, por exemplo, foram incluídos nas estatísticas”.
Europa
Vivendo há sete anos na Itália, Andrea Martins destacou que o país teve mais acertos do que erros, por isso está numa situação mais confortável atualmente. “Não é à toa que a Organização Mundial da Saúde elogiou o pioneirismo do país nas ações adotadas. Eu mesma me surpreendi com a disciplina dos italianos durante o lockdown, o que foi determinante no enfrentamento contra a doença e no combate à disseminação, inclusive para o interior”.
Não foi fácil vivenciar o auge da pandemia, relembrou a jornalista que testemunhou de perto o impacto sofrido pelo turismo, setor que representa 13% do PIB do país. Ao que tudo indica, o turismo será agora mais interno com a abertura das fronteiras na União Europeia, já que pessoas de países de fora do continente como Brasil e Estados Unidos ainda não estão autorizados a viajar para a Itália. Agora, os italianos estão colhendo os frutos e vivendo o chamado novo normal. “É possível andar nos espaços livres e usar a máscara somente em ambientes mais fechados como bares e restaurantes e principalmente no transporte público”, contou.
Jornalismo forte
Andrea Martins ressaltou ainda que, assim como os profissionais da saúde, o jornalismo também sairá fortalecido no pós pandemia por todo o trabalho desempenhado para levar informação checada e de qualidade a toda a sociedade no Brasil e no mundo. “Apesar dos ataques à imprensa, a grande maioria do público reconhece a importância desse serviço essencial, principalmente em tempos de fake news”.
“Foi a primeira vez que vimos no Brasil veículos de comunicação se unindo para divulgar dados consolidados sobre o COVID-19 na tentativa de não ficarmos por fora da realidade, além de combater às notícias falsas. Isso é fantástico”, elogiou Odair Albano.