Foi em 1925. Numa visita ao Brasil, um dos principais físicos do mundo, o alemão Albert Einstein, conheceu, além de diversos pontos turísticos do país, as instalações da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. A visita à primeira rádio brasileira foi um convite do fundador da emissora, Edgard Roquette-Pinto, considerado o pai da radiodifusão brasileira.
Num discurso em alemão, Einstein falou sobre a importância dos meios de comunicação para o conhecimento científico e fez um apelo pela paz no mundo.
Quem conta os detalhes da visita de Einstein à Rádio Sociedade, atual Rádio MEC, é a jornalista e professora da PUC-RJ, Rose Esquenazi.
Como aconteceu essa visita à Rádio Sociedade?
Os donos da Rádio Sociedade, Roquette-Pinto e Henrique Morize, eram cientistas e antropólogos e convidavam as pessoas famosas que chegavam ao Rio de Janeiro para darem um pulinho na rádio e falarem sobre cultura, ciência.
A Rádio Sociedade tinha dois anos de existência e só uma concorrente, que era a Rádio Clube do Brasil. As duas rádios não competiam porque uma funcionava segunda, quarta e sexta, e a outra, às terças, quintas e sábados. Havia uma fragilidade no sistema elétrico e as duas tinham medo de incêndio se fossem transmitidas no mesmo dia. Era o início do rádio no país, estava começando muito devagar. A Rádio Sociedade tinha o cunho educativo, cultural, num momento em que isso era muito limitado. Quase 70% da população brasileira era analfabeta, então o conteúdo da Rádio Sociedade viria a acrescentar informação aos brasileiros.
Quando Einstein veio, ele já tinha recebido o prêmio Nobel, então muitas pessoas foram ao porto recebê-lo. Muitos jornais da época o retrataram como o primeiro gênio da humanidade depois de Newton. Ele chegou com muita simplicidade, com terno surrado, sapatos sem meias, cabelo que ele não penteava há 10 anos, com uma bagagem simples, um violino, uma malinha. Ficou hospedado no tradicional Hotel Glória.
Aí, um dia, ele foi no Pavilhão Tcheco-Eslovaco, onde ficava a Rádio Sociedade.
Ele veio ao Brasil para visitar especificamente a Rádio Sociedade?
Ele veio fazer uma excursão pela América Latina, também foi ao Uruguai. Na época era comum. O Brasil convidou Einstein porque a ciência no país estava começando a se formar. O nome dele era muito conhecido na Europa.
Entre as visitas que ele veio fazer aqui, ele foi à Fiocruz, à Academia de Ciências. Uma das atividades então, foi dar um pulinho na Rádio Sociedade. Ele era um entusiasta do rádio porque achava que as pessoas podiam aprender muito facilmente com o rádio, mais do que lendo, porque o livro você tem que escolher, parar para ler, e o rádio já vai entrando naturalmente na mente das pessoas.
O que Einstein falou na visita?
Naquela época não havia sistema de gravação. Mas anos depois, Roquette-Pinto deu uma entrevista muito interessante sobre a vinda de Einstein que foi recuperada por uma pesquisadora, a Luisa Massarani, do Museu da Vida da Fiocruz. A mensagem dele era de paz. Já tinha acabado a primeira guerra, então todo mundo viu o estrago, quantas pessoas morreram. A mensagem de Einstein era muito focada nessa coisa de que nós devemos nos esforçar para não usar violência, para não participar de nada que possa causar mal. Então ele tinha essa atitude de tentar levar a ciência para o lado de coisas boas e não das maldades, da guerra, da morte, da destruição.
Imagino que essa entrevista tenha sido muito ouvida.
Não foi tão ouvida porque naquela época pouquíssimas pessoas tinham aparelho de rádio importado. A maioria ouvia rádio de galena que as pessoas montavam. Então, a repercussão não é como a gente imagina hoje. Hoje, todo mundo tem rádio no carro, em casa, no celular. Lá não havia essa massa que hoje a gente tem. Mas com o pessoal da ciência foi um impacto muito grande, porque era o Einstein, que tinha recebido o prêmio Nobel, falando sobre a Teoria da Relatividade, que era muito revolucionária na época. Então, causou impacto sim.
O que mais Einstein fez no Brasil?
Einstein também visitou o Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Ele ficou tão emocionado com as árvores, principalmente o Jequitibá. Ele abraçou a árvore, beijou e escreveu no diário dele que o Jardim Botânico e a sua flora superam sonhos da mil e uma noites, e que tudo cresce a olhos vistos. Ele ficou apaixonado! Segundo ele, a visita ao Jardim Botânico significou um dos maiores acontecimentos da sua vida.
Para ouvir o áudio de Roquette-Pinto sobre a visita de Einstein à Rádio Sociedade do Rio de Janeiro: http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/modules/debaser/singlefile.php?id=10744
Você já ouviu a voz de Einstein?
No link https://www.youtube.com/watch?v=2pdnME5RAAQ Albert Einstein discursa em inglês e fala sobre a importância da paz no mundo. O discurso é semelhante ao que ele fez na Rádio Sociedade, em 1925.
“Devemos nos esforçar para não usar a violência na luta pela nossa causa, mas pela não participação em qualquer coisa que você acredita ser o mal.
Preocupamo-nos não apenas com o problema técnico de assegurar e manter a paz, mas também com as importantes tarefas de educação e esclarecimento.
Sem essa liberdade, não teria havido Shakespeare, nenhum Goethe, nenhum Newton, nenhum Faraday, Pasteur e nenhum Lister.
A ciência forneceu a possibilidade de libertação para o ser humano do trabalho duro.
Quando as ideias da humanidade são de guerra e conquista, essas ferramentas se tornam tão perigosas como uma navalha nas mãos de uma criança de três anos.
Não devemos condenar a inventividade do homem, a paciente conquista das forças da natureza, porque estão sendo usadas erradamente.
O destino da humanidade inteira depende de seu desenvolvimento moral.”