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    TV digital: projetos especiais foram criados para ajudar moradores

    Em março de 2016, a população de Rio Verde (GO) foi a primeira do país a assistir a televisão aberta exclusivamente com o sinal digital. A partir dali, a equipe responsável pela digitalização da TV estudou a necessidade das famílias e ganhou reforços. Vários projetos foram desenvolvidos para que, com o fim das transmissões analógicas, a população não ficasse sem a programação favorita. Com a conclusão da primeira fase, na semana passada, os esforços agora estarão voltados para as mais de quatro mil cidades que ainda passarão pelo desligamento.

    O diretor da ABERT, André Dias, esteve à frente de projetos que envolveram alunos voluntários nas 1.378 cidades que passaram pelo desligamento. “A partir da experiência em Rio Verde passamos a compreender alguns problemas. Por exemplo, a população não usava os kits digitais que recebia gratuitamente porque não sabia como instalar antena, conversor e cabos. A partir daí, procuramos o Senai e capacitamos 30 alunos para percorrer as casas, ajudando na instalação. Criamos o Diálogos da TV Digital e explicamos a eles, e também a líderes comunitários, moradores e estudantes de escolas públicas, a importância da digitalização da TV para cada um”, conta Dias.

    Para auxiliar os milhares de moradores, alunos e professores do Senai de todo o país que participaram do projeto Patrulha Digital receberam treinamento e capacitação. Segundo Dias, mais de 200 mil estudantes do Senai receberam o certificado de técnico de TV Digital. “Nós dávamos um treinamento teórico e um treinamento prático a eles. No voluntariado, eles colocaram em prática o que aprenderam. Técnicos de TV e professores da instituição ajudavam os alunos, caso tivessem dúvidas”, afirma. André Dias lembra que, com a experiência, muitos alunos ingressaram no mercado de trabalho. “Para alguns, a entrada foi imediata no mercado de trabalho. Muitos realizaram um sonho antigo, outros fizeram poupança para a universidade, pagaram dívidas, quitaram débitos do Minha Casa Minha Vida. Mudou a vida de muitos deles em todo o Brasil”.

    No Rio de Janeiro, por causa da dificuldade de acesso às favelas e comunidades de risco, foi firmada uma parceria com a Central Única das Favelas, a CUFA, que capacitou 10 mil pessoas para instalar os kits digitais. Pela parceria, o serviço de instalação nas casas dos moradores de baixa renda foi gratuito. Já os moradores com melhores condições financeiras pagavam de R$ 10 a R$ 40 reais aos alunos voluntários.

    “Em São Paulo, soube de alguns voluntários que contaram microempresas individuais para voltar a ter aquela oficina de bairro, que antigamente era comum, de conserto de televisão. Eles fazem a manutenção em conversores e ajudam no processo de instalação. A habilidade adquirida gratuitamente se tornou o ganha pão deles”, conta Dias.

     Fora de Rota e Digital Solidário

    Outro projeto criado com a experiência da digitaliza­ção da TV foi o Fora de Rota, que levou os voluntários a instituições de caridade como asilos, abrigos e orfa­natos, além de hospitais e penitenciárias.

     Em uma das visitas do Fora de Rota, a equipe reparou que um hospital destinado a pacientes com hanse­níase de Manaus (AM) não tinha um único aparelho de TV nos leitos. Surgiu a ideia de criar o Digital So­lidário. “A gente sabe que muita gente tem em suas residências uma televisão de tubo guardada, antiga, mas que ainda funciona. Por isso, fizemos um apelo para que esses televisores fossem doados. Essa ação funcionou tão bem em Manaus que levamos para outras cidades, principalmente para as do Nordeste. Tivemos a ajuda solidária de toda a população para que ninguém ficasse sem televisão”, diz.

    Feirão Digital

     Também os feirões digitais ajudaram moradores a ter um kit conversor. As lojas de eletroeletrôni­cos das cidades ofereceram preços promocionais e opções de parcelamento na venda de aparelhos de TV, cabos, antenas e conversores digitais.

    “Em uma das cidades ribeirinhas que visitamos, lem­bro de estar voltando de barco e olhar o tanto de barco transportando televisores para as casas flutu­antes. Os moradores aproveitaram os preços espe­ciais também para modernizar seus aparelhos”, diz.

     Até 2023, mais 4.229 cidades deverão ter o sinal analógico desligado e a expectativa é que os pro­jetos desenvolvidos na primeira fase continuem. “A segunda fase também promete emoções. Nós não trouxemos exemplos de nenhum país do ex­terior. Todo o processo de digitalização foi feito a partir de ações que criamos aqui no Brasil”. O des­ligamento da TV analógica no Brasil é considerado um modelo de sucesso para todo o mundo.

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