Por José Cruz, especial para Abert
Quanto mais gritos e barulho de foguetes vindos da entusiasmada torcida Xavante, mais os irmãos Ingomar e Armindo Venske apertam os seus radinhos de pilha ao ouvido. Para eles, a transmissão do jogo é fundamental, lance a lance. E reagem conforme a vibração e o tom de voz do locutor esportivo, que procura ser fiel às jogadas em campo.
Armindo e Ingomar são cegos, mas estão lá, parceiros da torcida do Grêmio Esportivo Brasil, de Pelotas. Eles fazem parte da “Maior e mais fiel”, como diz a faixa rubro-negra, cores do time. Naquele jogo de um bonito domingo de abril de 2007, quando o Brasil derrotou o Grêmio, de Porto Alegre (1 x 0) pelo Campeonato Gaúcho, eu estava ao lado desses torcedores que transmitem emocionante lição de vida e paixão pelo esporte.
Armindo e Ingomar não são os únicos cegos nessa fanática torcida. A irmã deles, Edi Maria, está lá com o marido, Haroldo. Ele também não enxerga. Mesmo torcedores do arquirrival Esporte Clube Pelotas, Edi e Haroldo são solidários às paixões clubística dos amigos.
Vagner Teixeira também vai ao estádio, com radinho em boa sintonia. Ele tem apenas 5% da visão. Distingue as cores das camisas dos times, mas não consegue reconhecer os jogadores a distância. “Esse negócio de futebol é muito bom. O barulho da torcida transmite muita energia e a nossa vibração se une à dos demais torcedores”, explicou.
Na paixão pelo futebol desses gaúchos se destaca a força do rádio. As imagens que mostram os torcedores acompanhando os lances contrastam com as dos torcedores cegos concentrados nas transmissões das emissoras.
Nas sua rotina, vez por outra Armindo é surpreendido por perguntas de curiosos: “Deve ser ruim não enxergar”— é
uma das mais ouvidas.
A resposta de Armindo sintetiza a simplicidade dessa gente que não perde a esportiva:
“Não sei, eu nunca enxerguei...”
A fotos valem mais que uma reportagem. Confira:
*José Cruz cobre as áreas de política, economia e legislação do esporte. Participou da cobertura de eventos esportivos internacionais nos últimos 20 anos. Escreve para o Blog do José Cruz, no http://josecruz.blogosfera.