As oportunidades atuais no Brasil e no pós-pandemia foram tema discutido pelo professor Luiz Marins, antropólogo e consultor de empresas durante o AESP Talks, encontro online promovido pela Associação das Emissoras de Rádio e Televisão do Estado do São Paulo (AESP), na quarta-feira (15).
Na visão do antropólogo, o que muita gente chama de “novo normal” será em breve o “velho normal”, com pitadas de novas tecnologias, que mudam a mentalidade do homem. “Elas estão sendo incorporadas na nossa realidade. Estamos nos alfabetizamos com o ‘zoom society’. Os aplicativos vieram para ficar. Isso não quer dizer que vai acabar com as lojas e restaurantes, por exemplo, mas teremos o crescimento do comércio eletrônico e das experiências de delivery”, exemplificou.
Já a realidade do trabalho em casa, remoto, para Luiz Marins, veio para ficar, mas deve ser tratada de forma diferente no interior das cidades e nas capitais. “Em cidades como São Paulo, onde a pessoa passa horas presa no trânsito, as pessoas querem permanecer trabalhando em suas casas. Mas, em outras localidades, há várias querendo voltar para o ambiente presencial, pois sentem falta das dinâmicas, especialmente a das relações. Isso porque a forma de viver, os relacionamentos entre as pessoas e até mesmo o tempo de vida são completamente diferentes. Mas, de fato, a tecnologia vai ser cada vez mais incorporada à nossa rotina daqui pra frente”, ressaltou.
Ansiedade e os espaços de convivência
Em tempos de pandemia, o professor explica que há dois tipos de pessoas. Aquelas mais tranquilas que, tanto no home office quanto no presencial, estão mais comprometidas com elas mesmas do que com a empresa, e as pessoas mais ansiosas, que querem entregar o máximo, inclusive porque têm medo de perder a função.
“O que aconteceu é que as relações ficaram mais amigáveis com o trabalho remoto. Nem o empregador desconfia se a equipe está realmente trabalhando, nem o colaborador fica com medo de perder o emprego porque não está sendo visto. A meritocracia favoreceu a remuneração pela produtividade”, destacou Marins.
O cenário afetou também as relações das pessoas com os espaços de convivência. Segundo o professor, se antes as residências eram vistas como um espaço dormitório, agora os locais maiores estão sendo mais valorizados. “As pessoas perceberam o desespero de morar em espaços menores como um quitinete. A tendência agora serão as construções de condomínios horizontais, o que já observamos inclusive no programa Minha Casa Minha Vida”.
Ele lembra que a origem da palavra crise vem da ideia de momento, de passageiro. “Estamos peneirando melhor as nossas relações no trabalho e no âmbito pessoal. Nesta crise, a malha da peneira fica muito fina. Logo, só vai passar quem for realmente muito bom”, alerta.
Jornalismo
O antropólogo citou a visão do filósofo alemão Hegel - que a imprensa poderia substitutir a religião no futuro - para explicar as relações atuais com as notícias. “É a máxima de que a imprensa determina o que você deve ou não obedecer. Assim como na religião, que te considera um herege, isso ocorre também nos casos dos meios de comunicação principalmente se você duvida de uma publicação veiculada pela mídia, sendo considerado até um alienado. Tudo isso voltou a ser amplamente discutido. Acredito muito na ideia de MCLuhan (filósofo canadense) de que o meio é a mensagem ainda mais nestes tempos de tanta informação”.
Aldeia global
O conceito de aldeia global, também defendida por McLuhan na década de 60, nunca foi tão moderno, de acordo com Marins. As novas tecnologias vão encurtar cada vez mais as distâncias e o progresso tecnológico vai reduzir o mundo à situação de que todos estarão, de certa forma, interligados. “As relações comerciais vão continuar como estão, mas serão intensificadas. O que vai mudar é o nacionalismo que ficará ainda mais forte, inclusive em nível global sob o ponto de vista antropológico. Não podemos confundir, portanto, nação brasileira com estado e governo”, ressaltou.
Para ele, a interligação será ainda maior entre o meio rural e urbano. “O Brasil vai continuar sendo um dos maiores produtores do mundo, batendo recordes de exportação de soja, milho e café. O que as pessoas precisam entender é que o agronegócio não é algo específico no meio rural. É uma atividade desenvolvida inclusive no meio urbano que vai gerar ainda mais empregos e renda nas grandes cidades especialmente no que tange às áreas de tecnologias”, completou.