O deputado federal Glauber Braga (PSB-RJ) apresentou recentemente na Câmara dos Deputados um projeto de resolução para estabelecer regime de urgência na tramitação de propostas de iniciativa popular da Comissão de Legislação Participativa (CLP).
Criada em 2001, a CLP recebe proposições elaboradas por associações e órgãos de classe, sindicatos e outras entidades organizadas da sociedade civil.
De acordo com Braga, que é vice-presidente do colegiado, o objetivo é fortalecer a participação popular no processo legislativo. “As manifestações passaram um recado claro. As pessoas, as comunidades e as organizações querem ter oportunidade de participar mais da produção de leis”, afirmou o deputado em entrevista à Abert.
Confira os principais trechos da entrevista.
O que o motivou a apresentar a proposta?
Vivemos no Brasil um conjunto de manifestações públicas com vários recados, e um deles é que as pessoas, as comunidades e as organizações querem ter oportunidade de participar mais do processo de produção de leis e dos governos. A Comissão de Legislação Participativa tem exatamente esse objetivo, de fazer com que as organizações da sociedade civil possam mandar projetos de lei para o Legislativo. Portanto, se a comunidade quer participar mais, então que demos essa resposta priorizando a tramitação das propostas da comissão. Uma medida provisória do Governo Federal tranca a pauta se não for avaliada e queremos dar a sociedade civil organizada mesmo tratamento.
O senhor acredita que a população estará mais motivada a participar no Legislativo, conferindo urgência às propostas oriundas da CLP?
Partimos do pressuposto de que o nosso sistema representativo puro está falido. As pessoas não se sentem mais representadas majoritariamente no Congresso Nacional. Daí você tem dois caminhos: diminuir a democracia, que não consideramos positivo. Outro caminho é ampliar a democracia, por meio da expansão do processo de participação. Não tenho dúvida de que estamos trilhando o caminho necessário para que as transformações nas políticas possam acontecer ao termos um sistema representativo com instrumentos de participação direta da sociedade.
Nos últimos anos vimos a criação de diversos canais de participação popular, a própria CLP é um exemplo. Como o senhor enxerga esses avanços?
Sempre daremos um passo adiante quando criarmos instrumentos de participação popular, inclusive usando as novas tecnologias e as redes sociais. O parlamentar tem que prestigiar essas ferramentas, não adianta somente criá-las formalmente. Isso é um movimento que vem do parlamento para a sociedade, mas também como uma pressão da sociedade para dentro do parlamento. A partir do momento que a sociedade exige instrumentos de participação direta, o parlamento também passa a ter que responder positivamente as leis que vem da sociedade.
Apesar de ter motivado mais de dois milhões de ligações, a proposta de lei que extingue a tarifa básica de telefonia fixa ainda não entrou na pauta de votação. Na sua opinião, de que forma o Parlamento pode dar mais voz à população?
Um das formas está na minha proposta. Outra é a participação direta da sociedade quando houver votação de um projeto. Inclusive venho defendendo essa proposta. Ou seja, durante a sessão ordinária o cidadão representante de uma instituição pode defender no Plenário a sua posição acerca de um projeto, que haja um tempo previsto para isso. E claro, se aquela posição é controvertida, que os opositores tenham também tempo para expressar as suas ideias. O caminho é ampliar a participação da sociedade nos instrumentos formais que já existem da democracia. A mudança efetiva , profunda e robusta é a participação direta das pessoas.
A internet e as mídias sociais têm propiciado uma maior participação da população nas grandes questões do país. O senhor acha que o congresso está atento a esses canais?
Acredito que começa a ficar atento. Já existem iniciativas interessantes na Casa, mas a maioria dos parlamentares tem que ampliar esse movimento de participação por meio das redes. E se não houve um despertar para isso, está na hora de acontecer. Alguns já verificaram a importância de fazer esse trabalho interativo através das redes. Mas a instituição em si tem que acordar e criar mais instrumentos de participação por meio delas. Por exemplo, nas grandes votações, podemos fazer um grande cadastro de e-mails por meio do portal da Câmara dos Deputados e o parlamentar, quando estiver votando uma matéria, consultar na internet a opinião do internauta. Isso pode estar inclusive afixado em um painel eletrônico no plenário. A opinião do internauta, e de quem está acompanhando aquele processo pela rede naquele momento. Se não é uma forma de uma deliberação direta, é uma forma de consulta popular.
Assessoria de Comunicação da Abert