Jornalista e senador em primeiro mandato, Carlos Viana (PSD-MG) visitou a ABERT na quarta-feira (15). “Acredito que era o meu momento de colaborar com a sociedade e com o Brasil”, disse o senador no encontro com diretores da Associação e representantes de veículos de comunicação. Em entrevista à Rádio ABERT sobre o atual momento da política brasileira, Viana afirmou que “o eleitor quer soluções. É preciso que o político esteja atento aos anseios do povo”.
Leia os principais trechos da entrevista do senador. Acesse a íntegra aqui.
O senhor é professor e jornalista, apresentava programas de TV e rádio. O que o levou a entrar para a política?
O que me trouxe à política após 23 anos como jornalista foi a certeza de que eu poderia contribuir para o debate e para a busca por soluções. Nesses anos todos, eu digo, com muita preocupação, que o Brasil avançou muito pouco na qualidade de vida do nosso povo. E isso se dá muitas vezes pela ausência das pessoas em querer colaborar. Porque a política é vista de uma forma muito ruim. Ela é criminalizada e vista como um grupo profissional que explora muitas vezes a questão do voto. E se fizermos uma avaliação sincera, a população está certa. A política em nosso país, nos últimos anos, deixou de ser de participação social e de respostas às pessoas para se tornar uma questão partidária de grupos fechados na política. E nessa última eleição veio uma resposta muito dura do eleitor, que ele não quer mais esse distanciamento. O eleitor quer soluções e eu entendi isso. Acredito que era o meu momento de colaborar com a sociedade e com o Brasil.
Como o senhor enxerga o ambiente político? É muito diferente do que o senhor imaginava?
É mais difícil do que fazer jornalismo. No jornalismo, você tem compromisso com as pessoas, o que a política exige também. Mas no jornalismo, você coloca suas ideias e suas opiniões. No Parlamento, você tem que dividir com outros que foram eleitos com você. Somos 81 senadores e todos têm voto, e por mais que tenhamos críticas a um ou outro, eles têm que ser respeitados. Eles foram eleitos como eu, e o voto deles vale a mesma coisa. Comigo chegaram 46 novatos ao Senado e eu tenho sentido um desejo muito grande de mudança, de atender e estar atento à população. Nós precisamos oferecer transparência e caminhar juntos com as pessoas.
O senhor é autor de uma proposta que prevê a redução do período de férias de juízes e membros do Ministério Público de 60 para 30 dias. Na mesma proposta, o senhor quer acabar com a aposentadoria compulsória para magistrados que cometerem infrações administrativas. Quais as possíveis pressões que podem surgir com as categorias?
Há uma boa parte do Judiciário que entende que esse benefício é insustentável. O que nós temos são as associações corporativas que naturalmente têm um poder de pressão muito grande, mas diante do quadro deficitário que nós temos hoje no país, ficaram sem argumentos. Apesar de todos confiarem na justiça, as mesmas pessoas falam que a justiça é lenta porque não tem juiz. Não tem juiz, mas eles têm 60 dias de férias, têm recesso de fim de ano e de meio de ano. Agora, sobre a aposentadoria do juiz que cometem infrações, é um absurdo um juiz pego vendendo sentença, recebendo dinheiro de crime organizado e depois de alguns anos afastado, recebendo salário, aposentado compulsoriamente com o salário integral e todos os benefícios. Aí não está certo.
Um das bandeiras da ABERT é a defesa da liberdade de imprensa e de expressão. O senhor acredita que essas liberdades fundamentais podem estar em risco? E o senhor, em algum momento foi ameaçado?
Eu já sofri ameaças de grupos de extermínio. Nunca fui ameaçado por bandidos condenados, mas sim por policiais corruptos. O que é pior, porque quando o policial passa para o outro lado, ele está usando do que o Estado dá a ele para cometer uma atividade criminosa. Essas experiências de ameaças marcaram muito meu trabalho, porque foram muito graves. Mas fora isso, eu acredito que o Brasil vive numa liberdade absoluta. É que a liberdade de imprensa está sendo confundida. A liberdade de opinião está esbarrando na imposição das visões particulares e ideológicas. É preciso ter um equilíbrio.